A presente exposição reúne o trabalho de vinte diferentes artistas, todos integrantes do Hermes Artes Visuais, grupo de acompanhamento dirigido por Carla Chaim, Nino Cais e Marcelo Amorim.
Em uma era moldada pela rede social, o acesso à imagem nunca foi tão democrático e facilitado. Somos bombardeados por imagens a cada instante, e quase nenhum passo (ou clique?) é dado sem antes sermos confrontados com uma sequência de estímulos visuais. A consequência de se viver na era da imagem, uma delas, e talvez a mais decepcionante para os iconófilos é que, uma vez mais acessível do que nunca, a imagem nunca foi tão descartável. Se consumimos milhares delas num único dia, as descartamos (ou esquecemos delas) quase que na mesma velocidade. Paradoxalmente, em um momento no qual as mais refinadas tecnologias são empregadas na construção das mesmas, tornando-as cada vez mais chamativas e atraentes. Todo esse engenho é empregado em um artifício cada vez mais efêmero.
A presente exposição reúne o trabalho de vinte diferentes artistas, todos integrantes do Hermes Artes Visuais, grupo de acompanhamento dirigido por Carla Chaim, Nino Cais e Marcelo Amorim. Falamos aqui de trabalhos muito distintos entre si, e de artistas com trajetórias completamente singulares. Mesmo assim, existe algo que parece os unir para além da participação no grupo (ou seria justamente por causa dela?): em uma era onde a imagem parece progressivamente ser reduzida a uma “lágrima na chuva” (para citar o não tão utópico assim Blade Runner), esses artistas tem algo a dizer.
Em boa parte dos trabalhos abundam os rastros, fragmentos e memórias. Elementos cotidianos condenados ao desaparecimento aqui parecem se eternizar, tendo seu potencial expressivo amplamente explorado. O mundo em que habitamos está presente em todas essas poéticas, por mais distintas que elas sejam entre si, e os artistas nos fazem prestar atenção em elementos que facilmente passariam batidos por um olhar menos treinado. Artistas, como são, que tornam visível, que dão a ver.
Na era da imagem, é peculiar que os nome aqui reunidos não se detenham somente no conteúdo apenas temático das mesmas: em um momento no qual a arte parece regressar a uma certa primazia do tema, flertando com uma narrativa por vezes quase que publicitária, os membros desse coletivo parecem, com procedimentos algo arqueológicos, buscar a essência dos elementos, sua alma, coisas cuja efemeridade não caberia talvez em um método quantificável ou científico, mas que ecoam naquilo que temos de onírico, de íntimo e, porque não, de humano.
Eduardo Galeano é autor da frase “os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias”. Histórias essas que nos compõe, que falam sobre aquilo que somos, e que revisitamos para compreender ou reafirmar nossa essência. A linearidade da cultura do descarte acaba cedendo lugar para o aspecto circular das memórias e, porque não, de nossa existência.